sábado, 28 de março de 2015

Por um mundo mais chato !



Você diz que está ficando chato por que não existe mais diálogo, compreende que está mudando e que consegue enxergar sua mudança interior de paradigmas, que está se tornando mais humano, mas diz que o mundo está ficando mais chato por que não existe mais diálogo, e nós te dizemos que ao contrário, hoje a voz das minorias são ouvidas, e por isso está mais chato. Enquanto o negro, o gay, a trans, as mulheres e os deficientes estavam em aceitação eterna na margem da sociedade, aceitando receberem salários até 30% mais baixos pelo mesmo trabalho que um homem hétero cisgênero branco, sem o direito de votar no caso das mulheres, sem o direito de trabalhar fora, sem direito a demonstrarem amor em público, casarem, terem filhos, formarem uma família, ou mesmo poderem se sustentar com dignidade sem ter que recorrer a prostituição, o mundo era mais legal aparentemente, por que ninguém reclamava, por que as minorias estavam desunidas, segregadas, literalmente a margem da forma que a sociedade impôs a elas. Hoje, ainda se luta por coisas que para o homem branco hétero cisgênero é surreal, como o direito de andar na rua à noite sem fazer parte de estatísticas como a que aponta que 77% dos assassinatos no Brasil são contra negros, ou onde 50.000 mulheres foram estupradas no Brasil em 2013 sendo que 90% das vítimas ainda não tem coragem de denunciar o agressor, ou andar de mãos dadas na rua com quem ama sem ser espancado. Você diz que hoje não há mais diálogo... nunca houve diálogo. Houve sim monólogo, imposições que eram aceitas e enquanto houverem grupos que se unem sobre qualquer ideologia para promoverem o ódio contra outros seres humanos, como assinar petições numa câmera de deputados contra um BEIJO numa novela, por ser um beijo de seres humanos diferentes deles, sim, é necessário que as minorias se unam cada dia mais para lutarem por seus direitos e serem sim CADA VEZ MAIS CHATOS, por que essas minorias muitas vezes lutam pelo direito a vida, coisa incompreensível para um homem branco hétero e cisgênero. Sim, você está arriscado a ser assassinado num dos países mais violentos do mundo, mas nunca por ser branco, nunca por ser homem, nunca por ser hétero e jamais por ser cisgênero. Mas não se engane: negr@s, mulheres, gays, trans, travestis, deficientes, todos nós, não queremos ser identificados pelo que somos externamente, pois isso é somente parte do que somos; mas infelizmente hoje ainda e cada dia mais é essa parte do que somos que é usado para nos humilhar, nos denegrir, nos diminuir, nos excluir, nos colocar muitas vezes em situação de subsistência. O mundo seria menos chato se essa máxima de "poder brincar" com as diferenças dos outros, de qualquer um, fosse uma verdade. Bem... sabemos que não é, sabemos que se paga um alto preço no Brasil por exemplo, ao se fazer uma piada sobre cristãos, evangélicos, sobre religiões... ah... mas com isso não se brinca? Então, o que qualifica a possibilidade de se brincar ou não com alguém a não ser a inferioridade que lhe é embutida pela sociedade?

Adriana Pasquinelli



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